A Folha de S. Paulo publicou hoje entrevista com o professor Camilo da Silva Oliveira, que dirige há 22 anos a Escola Lúcia de Castro Bueno, em Taboão da Serra (Grande São Paulo), classificada em primeiro lugar, segundo o último Enem, na rede estadual paulista – mas apenas a 2.596ª melhor escola do país (média de 58,5, em 100 pontos).
Há muito tempo eu não lia uma entrevista tão corajosa, com tantas verdades. Estão lá, para quem quiser ler, as soluções e as idéias de um diretor lúcido, dedicado à honrosa e difícil tarefa de educar. Mas educar no verdadeiro sentido da palavra: instruir, criar condições para que os alunos alcancem um alto grau de desenvolvimento espiritual. E não, como pensa a maioria dos educadores hoje, tão-somente politizar.
Abaixo, coloco dois dos melhores trechos (os grifos são meus). Eles mostram, através do olhar de um professor experiente, que os governos estão perdidos, não sabem o que fazer com a educação, não possuem qualquer norte. Não há plano estratégico, neste país, para a educação. Ao mesmo tempo, Camilo da Silva Oliveira denuncia a esquerda, que deseja transformar a escola em sindicato, que coloca a transmissão de conhecimentos, de conteúdo, em último plano.
Infelizmente, Oliveira está certo: “A escola pública vai continuar dependendo de talentos isolados”.
FOLHA - No dia-a-dia, o que a sua escola tem de diferente?
OLIVEIRA - Um eixo pedagógico, o rol de conteúdos [currículo], uma sequência de conteúdos. Fui pesquisar, porque o Estado não tinha subsídio para isso. Pesquisei escolas particulares e vestibulares de ponta. O Estado nem desconfiava desse rol. E hoje, 20 anos depois, ainda nem desconfia [o currículo começou a ser implementado na rede estadual em 2008].
FOLHA - O sr. então tem uma escola que não segue a rede.
OLIVEIRA - Aqui é uma escola maldita, que vai contra os modismos de cada secretário. Depois da Rose Neubauer [gestão Mario Covas], em que as escolas perdiam aulas para treinamento de professores em horário de serviço, veio um que nem sabe o que é rol de conteúdos [Gabriel Chalita, gestão Geraldo Alckmin]. A escola, que já não funcionava, ficava uma semana em feira de ciências ou excursões para zoológico. Melhora o ensino? Vi que era fria e tirei a escola disso. No governo Serra, temos o terceiro secretário em dois anos e meio. Se o meu projeto dependesse do governo, estaria esfacelado. A menina do Mackenzie [Maria Lúcia Marcondes Carvalho Vasconcelos, primeira secretária da gestão José Serra] era bem intencionada, mas não conseguiu nada. A segunda [Maria Helena Guimarães de Castro] eu respeito porque sabe que escola é avaliação. E sabe que para avaliar precisa de um rol de conteúdos. Mas teve problemas de gestão. Por exemplo, a prova de temporários era uma boa ideia. Mas a implementação foi péssima, sem preparo jurídico, o que melou o sistema. Ou seja, o governo não tem a menor ideia do que fazer com as escolas. Deveríamos nos preocupar com o que realmente interessa, que é a aprendizagem dos alunos. Depois se acerta a burocracia. Hoje, os diretores ficam mais preocupados com as atinhas, e o aluno não tem aula. É uma inversão. É triste, porque se é esse caos em São Paulo, imagina nos outros Estados. Nem as universidades conhecem a rede. Ganhei da Escola de Aplicação da USP [que ficou em 3.293º lugar no ranking nacional], por exemplo. E a esquerda até hoje acha que a democracia é o principal debate para a escola. Você pega o PT, eles estão discutindo eleição para diretor de escola. Uma bobagem. Deveria pegar os melhores quadros para dirigir a escola. Isso aqui não é sindicato. Estou me aposentando e não vejo caminho. A escola pública vai continuar dependendo de talentos isolados. O Estado só atrapalha. Aquelas que seguiram a linha, se esfacelaram.
maio 04, 2009
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