setembro 08, 2011

A bondade é mais interessante que a maldade

Uma frase da escritora Anne Rice, publicada por certo amigo no Facebook, revela, de maneira indireta, qual o senso comum destes dias, inclusive entre escritores. Para Rice, “é triste que não possamos fazer a bondade ser tão interessante quanto a maldade”. A autora, conhecida por suas tramas de vampirismo – e que teria voltado à Igreja Católica em 1998 –, mostra-se melancólica em relação ao fato de a temática do bem não produzir tantos adeptos quanto a literatura que narra o mal. Teríamos nos acostumado à maldade? E estaríamos realmente impedidos de transformar a bondade num tema capaz de despertar interesse?

Esse é o problema da rápida reflexão de Anne Rice: ela só exprime o senso comum. Pois, como respondi a meu amigo, a bondade é mais interessante que a maldade. A verdade parece ser o contrário apenas porque somos massacrados – do noticiário à literatura – por todas as formas de mal, dia após dia. Nossa cultura niilista, devota do pessimismo, insiste em nos apresentar o mal como a regra de todos os homens – e exatamente por esse motivo nada, absolutamente nada, pode ser mais entediante do que a maldade.

Se o homem contemporâneo é descrito por muitos como a figura do egoísmo, do vazio e da frivolidade, se a vilania tornou-se vitoriosa na ficção, em parte da poesia e, se acreditarmos no que diz a mídia, também na realidade, isto se deve ao cinismo que a cultura erudita do século XX elevou à categoria de deus. Mas se dermos ao homem enfadado pela maldade um só gesto, uma só página de bondade, ele se sentirá renovado, quando não desorientado, pois a bondade – neste mundo que aparentemente cultua o mal – inquieta, perturba, estimula.

É preciso, portanto, abandonar o senso comum dos nossos intelectuais, deixar de ser nietzschianos de ouvido, virar no avesso a frase de Anne Rice: o mal apenas parece mais interessante que a bondade – e por uma só razão: ele é amplamente difundido, propagandeado. A intelligentsia e os formadores de opinião colocaram o homem no atoleiro moral – e não querem que ele saia daí. Parafraseando Rice, é triste que nossos escritores não tenham coragem para mostrar a verdade: que só o bem é verdadeiramente interessante – e que nobreza, generosidade, honradez e benevolência são as únicas forças capazes de libertar o homem do tédio em que pretendem aprisioná-lo.

5 comentários:

Pedrita disse...

realmente, muitos falam q os bonzinhos são chatos. será?

Edna disse...

Mostrar o mal, e que ele existe, me parece necessário, porque a luz só brilha nas trevas. Temos que reconhecer o mal, para poder optar pelo bem. Mas houve essa tão falada inversão de valores, e o que era pra ser um grão de areia, nas telas, nos livros e mídia em geral, se tornou a praia inteira. Como disse Jesus, creio que na maioria das vezes, eles (estamos incluídos) não sabem o que fazem. E temo que o despertar terá que ser (e já está sendo) doloroso.

Zeila disse...

Perseverar no bem é mesmo uma aventura. E uma aventura em boa companhia.

Sue disse...

Pedrita,

Há uma diferença grande entre o "bonzinho" e o bom. Bonzinho é aquele cara que tenta agradar a todos, e isso é chato mesmo. Bom é aquele que tenta agradar apenas a Deus, e esse não é chato não, ao contrário, incomooodaa...

Fátima Santiago disse...

Talvez isso aconteça: "é triste que nossos escritores não tenham coragem para mostrar a verdade" porque eles prefiram também o mal.