Uma frase da
escritora Anne Rice, publicada por certo amigo no Facebook, revela, de maneira
indireta, qual o senso comum destes dias, inclusive entre escritores. Para
Rice, “é triste que não possamos fazer a bondade ser tão interessante quanto a
maldade”. A autora, conhecida por suas tramas de vampirismo – e que teria voltado
à Igreja Católica em 1998 –, mostra-se melancólica em relação ao fato de a
temática do bem não produzir tantos adeptos quanto a literatura que narra o
mal. Teríamos nos acostumado à maldade? E estaríamos realmente impedidos de transformar
a bondade num tema capaz de despertar interesse?
Esse é o
problema da rápida reflexão de Anne Rice: ela só exprime o senso comum. Pois, como
respondi a meu amigo, a bondade é mais interessante que a
maldade. A verdade parece ser o contrário apenas porque somos massacrados – do
noticiário à literatura – por todas as formas de mal, dia após dia. Nossa
cultura niilista, devota do pessimismo, insiste em nos apresentar o mal como a regra
de todos os homens – e exatamente por esse motivo nada, absolutamente nada,
pode ser mais entediante do que a maldade.
Se o homem
contemporâneo é descrito por muitos como a figura do egoísmo, do vazio e da
frivolidade, se a vilania tornou-se vitoriosa na ficção, em parte da poesia e,
se acreditarmos no que diz a mídia, também na realidade, isto se deve ao
cinismo que a cultura erudita do século XX elevou à categoria de deus. Mas se
dermos ao homem enfadado pela maldade um só gesto, uma só página de bondade, ele
se sentirá renovado, quando não desorientado, pois a bondade – neste mundo que aparentemente
cultua o mal – inquieta, perturba, estimula.
5 comentários:
realmente, muitos falam q os bonzinhos são chatos. será?
Mostrar o mal, e que ele existe, me parece necessário, porque a luz só brilha nas trevas. Temos que reconhecer o mal, para poder optar pelo bem. Mas houve essa tão falada inversão de valores, e o que era pra ser um grão de areia, nas telas, nos livros e mídia em geral, se tornou a praia inteira. Como disse Jesus, creio que na maioria das vezes, eles (estamos incluídos) não sabem o que fazem. E temo que o despertar terá que ser (e já está sendo) doloroso.
Perseverar no bem é mesmo uma aventura. E uma aventura em boa companhia.
Pedrita,
Há uma diferença grande entre o "bonzinho" e o bom. Bonzinho é aquele cara que tenta agradar a todos, e isso é chato mesmo. Bom é aquele que tenta agradar apenas a Deus, e esse não é chato não, ao contrário, incomooodaa...
Talvez isso aconteça: "é triste que nossos escritores não tenham coragem para mostrar a verdade" porque eles prefiram também o mal.
Postar um comentário