A crítica literária de José Maria Guelbenzu tem, dentre várias qualidades, a de ser isenta do artificialismo que, cada vez mais, contamina parcela significativa de seus colegas brasileiros. Entre nós, tornou-se um hábito saturar o texto crítico com a terminologia estruturalista, abusar dos academicismos, como se esses vocábulos, completamente distantes dos leitores de jornal, pudessem acrescentar algum significado etéreo, inusitado ou surpreendente ao texto literário. Na verdade, não passam de pedantismos, transformando o texto que deveria esclarecer numa selva fechada, impenetrável ao leitor comum, algaravia que, às vezes, serve para esconder a pusilanimidade de julgar.
Vejam, por exemplo, o texto de Guelbenzu deste sábado, no Babelia, em que ele fala sobre o Anna Kariênina: transparência, objetividade. Não, o crítico não diminui suas ideias, não as torna fáceis apenas para ser lido por muitos, mas explicita seu julgamento com clareza. O leitor informado percebe, nos alicerces, todo o aparato crítico contemporâneo, os avanços e retrocessos da ciência da linguagem, mas ninguém precisará recorrer a um dicionário – e, chegando ao final, somos recompensados: sabemos exatamente o que Guelbenzu quis dizer, o texto não turvou nossa compreensão; ao contrário, nos aproximou ainda mais do universo de Tolstói.
Leiam. O texto flui. O sentimento de intimidade é tão grande, que parece estar escrito em português.
março 27, 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
eu não tenho muito o hábito de ler obras que falam de outras. acho que até agora li poucas, como michelet do roland barthes. acho q entram no mesmo grupo das releituras. acho que sempre falta muito o q ler, então leio as obras antes. falei de turista acidental de anne tyler no meu blog. escrevi muito pouco. beijos, pedrita
Que jeito lindo de se elogiar. Eu ficaria honrado com um comentário como esse. Muitos escritores/críticos, entretanto, não encarariam assim. Bem... é exatamente o mote do seu texto.
Obrigado pela indicação.
Postar um comentário