A principal
característica de um governo esquerdista é que ele jamais se contenta em
governar de acordo com a ordem legal, instituída. Ele sempre acredita que detém
a chave, a poção, a receita miraculosa para transformar o país no que, ele
imagina, será o melhor dos mundos. O problema é que o melhor dos mundos, quando
se trata da esquerda, está sempre próximo do que imaginamos ser o Inferno,
quando não é o próprio Inferno.
A prova do que
afirmo encontra-se não apenas na história das revoluções — vejam o Purgatório
congelado no tempo em que Cuba se transformou, sobrevivendo graças à submissão
de um povo sem esperança e sem armas e à propaganda esquerdista mundial, ou os
milhões de crimes perpetrados pelo comunismo soviético —, mas também no
presente, no cotidiano da sociedade brasileira, sequestrada, em grande parte,
pelo pior tipo de populismo que já conhecemos, superior, em método e recursos,
aos refinamentos do getulismo.
Esta semana,
mais uma vez, o governo ensaiou uma tentativa de golpe. O alarme foi dado pelo editorial
do Estadão, “Mudança de regime por decreto”, e rapidamente se espalhou pelas redes sociais e blogs,
transformando-se em um fenômeno viral.
De fato,
enquanto os políticos de oposição dormem, refestelados em seus altos salários e
mordomias, parcela da sociedade vigia, atenta, os ensaios para se criar uma
ditadura. As reações foram múltiplas: Reinaldo Azevedo pontificou: “A ‘democracia direta’ de Dilma é ditadura indireta do PT”. Alexandre Borges deu uma breve mas incisiva aula de
história em “Todo poder aos sovietes petistas”. Felipe Moura Brasil denunciou a lentidão dos tucanos, sempre
envergonhados ou sempre pactuando silenciosamente com o governo, no post “Ronaldo Caiado sai na frente de Aécio: ‘É golpe do PT!’”. No artigo “Um tumor inserido por decreto”, Fábio Blanco sangrou ainda mais a manobra
traiçoeira. E Milton Simon Pires não deixou por menos: mostrou, em “Brasil 8243”, como o PT pretende
destruir as instituições do país.
O mais didático
e irônico, contudo, foi Erick Vizolli, no sempre ótimo Liberzone. No artigo “Afinal, o que é esse tal Decreto 8.243?”, Vizolli mostra que o sistema
representativo, apesar de todos os seus defeitos, ainda é a única forma de nos
protegermos de um Estado controlado por grupos que não têm compromisso com a
democracia ou a liberdade, mas apenas com suas próprias ideologias.
Todos esses
articulistas me recordaram as reflexões de Roger Scruton em The
Uses of Pessimism and the Danger of False Hope (As vantagens do pessimismo,
Editora Quetzal, Lisboa). No Capítulo 6, “A Falácia do Planeamento”, Scruton
faz uma brilhante analogia entre a estrutura da União Europeia e a forma como
Lenin aboliu, na Revolução Russa, “todas as instituições através das quais o
partido e seus membros pudessem ser responsabilizados pelo que fizeram”,
permitindo que um erro se sucedesse a outro, sempre maior, sempre mais
criminoso.
Scruton reflete
como se tivesse acabado de ler o decreto de Dilma Roussef: “Quando os poderes de Governo estiverem adequadamente repartidos e
quando os que detêm a soberania puderem ser expulsos por uma votação, os erros
podem encontrar o seu remédio. Porém suponhamos que as instituições de Governo
estão montadas de tal maneira que toda a concentração de poder é irreversível,
de modo que os poderes adquiridos pelo centro nunca podem ser recuperados. E
suponhamos que aqueles que mandam no centro são nomeados, não podem ser
afastados a pedido do povo, encontram-se em segredo e guardam poucas ou
nenhumas atas das suas decisões. Acha que, nessas circunstâncias, existem
condições em que possam ser retificados erros ou mesmo convincentemente
confessados?”.
Todos os infinitos
casos de corrupção; todas as manifestações de ódio coletivo que têm tomado as
ruas; o longo e incansável trabalho de controle ideológico feito pelo
Ministério da Educação, censurando, de forma velada, o conteúdo de milhões de
livros didáticos distribuídos país afora; todas as tentativas de manter sob
vigilância a mídia e a Internet; o evidente controle do Executivo sobre parcela
do Congresso e do Supremo Tribunal Federal — tudo contribui para transformar o
Decreto 8.243 na cereja do bolo.
Se ainda podemos
ter alguma esperança, ela reside no fato de que eles sempre acabam destruindo uns
aos outros. “Doze vozes gritavam cheias de ódio e eram todas iguais. Não havia
dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de
fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco
para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era
homem, quem era porco” — conta George Orwell no final de A Revolução dos Bichos.
Prezado Rodrigo !
ResponderExcluirPerfeito teu artigo. Muito bom: claro, conciso e indo direto ao ponto.
A situação é deveras preocupante e o cerco está se fechando.
Um grande abraço e que Deus nos proteja.
Andrea
Excelente Gurgel, parabéns! E que Nossa Senhora Aparecida olhe por nós!
ResponderExcluirExcelente Rodrigo,excelente é o minimo a dizer,faço em agradecimento todos professores de português que nunca desistiram pois a língua pátria não era eu meu forte mas hoje consigo ler e entender e assim a vida a mim tornou-se prazerosa e não preciso ser rico para isso,Muitos deles partiram mas meus agradecimentos serão eternos.C a
ResponderExcluirPerfeito! Excelente, como sempre!
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