Sempre digo que a
conhecida citação de Oscar Wilde – “A vida imita a arte” – é apenas uma frase
de efeito, nada mais, tentativa pueril de criar uma teoria anti-aristotélica,
de oposição à mimese. Opor-se à natureza e à vida é, aliás, o tema central da
obra – The Decay of Lying – em que a
citação se encontra.
Mas este breve
primeiro parágrafo não tem o objetivo de iniciar um debate filosófico. Serve
apenas ao meu principal interesse, a literatura.
Essas idéias ressurgiram
ontem à noite, quando minha esposa comentou sobre uma notícia ouvida no rádio.
Minha primeira reação foi lembrar de O
falecido Mattias Pascal, de Luigi Pirandello; logo a seguir, da frase de
Wilde. E depois de ler a história com atenção, percebi que a vida, mais uma
vez, oferecia novos caminhos à arte.
A história de Pedrito
de Jesus Conceição, portanto, aguarda por um bom escritor. Alguém preparado
para captar os meandros da breve existência desse homem tido como morto, depois
vivo, mas que finalmente morre; antes, contudo, que o Estado lhe conceda seu “atestado
de vida”. Homem que, apesar de trazer o substantivo “conceição” no nome, morreu
várias vezes, de diferentes formas. Parafraseando Pirandello, trata-se de um
personagem que busca seu escritor, alguém disposto a entender esse drama
familiar nada desprezível, no qual a morte se estabelece e se prolonga num
misto de confusão, tristeza, humor negro e dependência do Estado.
Ainda existiria esse
escritor, humilde o suficiente para entender que só resta à arte imitar a vida?
E que tal trabalho, de imitar a vida transformando-a, tem seu mérito
indiscutível?
Nenhum comentário:
Postar um comentário