novembro 11, 2014

Estilo ou apenas o linguajar instintivo?

Muitos defendem a ausência de estilo no texto literário. Em nome dessa tese duvidosa, argumentam em favor do coloquialismo — um coloquialismo absoluto, não só livre de supostas artificialidades, mas que incorpore gírias, termos chulos e o calão dos grupos sociais presentes na narrativa.

A tese tem dois problemas: quando a linguagem coloquial se impõe, já não expressa mais naturalidade; tornou-se um estilo. Além disso, a quem interessa, por exemplo, um diálogo que seja apenas a cópia fiel da conversa que acabamos de ouvir no balcão da padaria? A quem interessa uma história narrada com o vocabulário específico de certo grupo de pessoas, a não ser a esses mesmos indivíduos? Dito de outra forma, se publicada, tal narrativa interessará a um número restrito de leitores; ou, por tempo determinado, a curiosos inocentes; ou por longo tempo, mas apenas a antropólogos, linguistas e sociólogos, que a utilizarão como documento em suas pesquisas.

Como dizia Nabokov, “a perfeição está no estilo e não, como só os tolos defendem, na espontaneidade, pois o espontâneo é o tagarelar do cronista”. Se o linguajar instintivo fosse a melhor solução, as sutilezas e dissimulações machadianas estariam hoje esquecidas — e o Bruxo do Cosme Velho não teria perdido seu tempo compondo, dentre outras frases, este famoso quiasmo: “Eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor”.

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