Sempre insisto com
meus alunos sobre a questão da gramática. Muitos acreditam que se tornarão
ótimos escritores apenas estudando Napoleão Mendes de Almeida. “Mas o que você
quer ser”, eu pergunto, “um escritor ou um gramático?”. Um escritor não precisa
conhecer a definição de verbo defectivo — mas precisa ao menos intuir, graças a
seu convívio diário com a língua, que certos verbos não apresentam todas as
formas de tempo, de pessoa, etc. Ele sabe que seu personagem, referindo-se à
falência de sua empresa, só pode dizer “eu fali”, no passado, pois, no
presente, esse verbo existe apenas quando usamos “nós” ou “vós”. Esta é uma
forma de conhecer como os verbos defectivos funcionam. E uma dúvida facilmente
resolvível em qualquer dicionário da Web, pois todos oferecem a conjugação dos
verbos. O mesmo acontece quando se trata da pontuação. O jovem escritor pode
decorar tratados sobre o uso da vírgula — mas é a leitura atenta dos bons
escritores que o ensinará a pontuar. Visitar os capítulos da gramática,
principalmente aqueles — a maioria — que não foram explicados na escola, é
meritório e certamente ajuda. Mas o bom escritor precisa ir muito além de um
conjunto de prescrições e regras.
Caro Prof. Rodrigo,
ResponderExcluirHá muitos anos, um escritor já falecido disse que meus escritos, simples bilhetinhos domésticos, eram um primor pela clareza da expressão, pela correção do uso do vocabulário e até pela caligrafia cuidadosa. Sei que escrevia bem não só bilhetinhos. Quase trinta anos se passaram e encontro-me na triste situação de não mais saber escrever, de não mais usar corretamente a gramática e, pior, de não conseguir ler adequadamente. Vários foram os motivos que me levaram a esta situação e um deles, acredito, foi o exercício da minha profissão. Redigi muito e li muito, uma enormidade. Tornei-me especialista em um tipo de redação formatada, mínima, muito objetiva e composta de jargões, e em um tipo de leitura de carregação, aquela leitura feita para resolver rápido problemas diversos, pulando de uma a outra palavra-chave e apreendendo as conclusões principais do conteúdo quase que por adivinhação, achando tudo obvio, enquanto resolvia outros tantos problemas 'bem mais importantes' também totalmente diversos.
Gustavo Corção, no livro A Descoberta do Outro, com este breve parágrafo fez a caridade de me ajudar a dar a explicação acima: “Nesse modo de vida apurei um certo folego lógico que me fartava a razão e que ainda por cima me dava um certo prestígio. Levei tempo para descobrir que aquela faculdade se desenvolvera a custa de uma atrofia...”.
Realmente é uma situação de atrofia, que só as suas lições de calma, esforço e humildade podem dela me tirar.
Abraço,
Cristina Garabini
Ps. preciso de tempo também.
Cristina: estamos sempre lutando para superar certos hábitos. Às vezes, precisamos apenas descobrir qual muleta pode nos ajudar mais. :-)
ResponderExcluirProcure ler aqueles autores que têm um estilo completamente diferente do seu — tenho certeza de que esse exercício vai ajudar muito.
Um abraço!
Esse comentário da Cristina me fez pensar uma coisa curiosa: eu também, em certos momentos, tenho a impressão de que hoje escrevo pior do que escrevi no meu auge, entre 2008 e 2011. Tenho menos paciência ou menos 'iluminação'? Não sei. Apenas sei que a busca pela beleza parece ter sido substituída pela busca do fim da história. Isso piorou depois que tentei participar do NaNoWriMo de 2013 com a ideia de terminar um romance meu que estava parado há anos. Não terminei o romance, fiquei com ainda mais dúvidas.
ResponderExcluirEm parte isto é porque eu hoje leio menos do que naquela época (meu trabalho anda esgotando minha paciência), mas recentemente eu retomei as leituras, de Agualusa e Philip K. Dick, por enquanto. Espero que essa atrofia seja passageira.
Eu tenho alguns textos que eu preciso superar.
Há períodos assim, José Geraldo. E o seu auge não está tão distante. Basta retomar o romance com disciplina, nem que seja uma hora por dia. No começo talvez seja difícil, mas só no começo. Um abraço!
ResponderExcluirCaro Prof. Rodrigo,
ResponderExcluirGostei demasiadamente do seu Blogger. Entre idas e vindas de pesquisas esperançosas, me encontrei em um "vórtex" de boas discussões, ideias e pensamentos de uma temática, por mim tão querida. Pois assim, como muitos amo a "palavra escrita" - mesmo que dela eu não seja bom "artífice". E concordo que escrever está além do bom uso da gramática... É a leitura dos "bons"! E também a criação da sua própria magia. Ao seu modo... Ao seu jeito.
Mesmo assim, gostaria humildemente que o Sr. indicasse um gramática para os aspirantes a escritores. Uma gramática descomplicada. Algo que não tive na vida escolar.
Um grande abraço, de um leitor seu!!
Gustavo Alcântara
Olá, G. Alcântara.
ResponderExcluirMinha gramática de uso diário é a "Nova Gramática do Português Contemporâneo", de Celso Cunha e Lindley Cintra.
Um abraço!