julho 15, 2014

“Em cada trecho seu que releio, creio descobrir o mais perfeito”

A literatura não é apenas o que está nos livros, o que foi publicado, mas também toda a coleção de incertezas do autor, as correções sem fim, os prazos jamais cumpridos, a revisão nem sempre minuciosa e, no caso de Marcel Proust, sua eterna angústia, o avanço da doença, a monumentalidade da obra — e a paciência do editor, Gaston Gallimard.

O processo industrial de edição encontra-se hoje num estágio diferente: os revisores enlouquecem por outros motivos, ninguém precisa decifrar marcações e hieróglifos como os de Proust. Mas a inquietude do autor, suas decepções e, muitas vezes, o descuido dos revisores — tudo permanece igual.

Em Marcel Proust – Gaston Gallimard – Correspondência (1912-1922), livro do qual as páginas abaixo foram retiradas, encontramos não só a desolação de Proust e suas eternas reclamações, mas principalmente o desvelo e a admiração de Gallimard, que escreve, em 14 de janeiro de 1921: “Em cada trecho seu que releio, creio descobrir o mais perfeito. Mas, seja onde for que os olhos pousem, em seu texto, o coração é arrebatado, e não consigo me desligar das páginas que acabei de ler”.



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