O tempo que o
amor exige não conhece medida. O soneto de Camões evoca a inesgotabilidade do
amor verdadeiro – e a consequente resignação ao objeto desejado, a paciência
que supera limites. Não importa que Raquel almejamos. Muito menos, que forma
assume Labão em nossa história.
Relemos a
correspondência de Flaubert e lá está Jacó, debatendo-se por Raquel, servindo
Labão como infatigável operário. “É preciso uma vontade sobre-humana para
escrever e eu sou apenas um homem”, ele diz, trabalhando sete horas por dia; e,
ao fim de um mês, enganado, produz apenas vinte páginas.
Não é o amor de
Jacó, disposto a servir mais sete anos, que Flaubert carrega? “Eu gosto do meu
trabalho com um amor frenético e pervertido, como um asceta do cilício que lhe
arranha o ventre.” E não se sujeitou a sacrifícios, não se humilharia ainda
mais, “ se não fora para tão longo amor tão curta a vida”?
Tal amor, sempre
a um passo da obsessão, mostra-se, o soneto não conta, às vezes infértil. Em
maio de 1852, Flaubert diz sentir-se “estéril como uma pedra”. Na história de
Raquel e Jacó, o filho nasce depois de longa insistência. Será o favorito,
José, mas a fala de Raquel não esconde o alívio: “Deus tirou o meu opróbrio”.
Flaubert, contudo, não se permitiu o contentamento – sabia que “a palavra
humana é como um caldeirão rachado, no qual batemos melodias próprias para
fazer dançar os ursos, quando desejaríamos enternecer as estrelas”.
No fim, diante da obra terminada ou do filho, o
que resta, senão amor? Amor que Camões adivinhou sob a plenitude, a totalidade
do número 7. Amor mais longo que a vida.
Julgo que é: "Passava, contentando-se com vê-la" - e não "contendo-se".
ResponderExcluirBelíssimo poema, de resto.
Uma terrível comida de bola do revisor, Margarida, sem dúvida. Aliás, curiosa, pois a edição, publicada pela Cultrix aqui no Brasil, tem seleção, prefácio e notas do Prof. Massaud Moisés. Como diria minha avó, acontece nas melhores famílias...
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