maio 07, 2014

Tediosa floresta — Gastão Cruls e “A Amazônia misteriosa”

Analiso, no Rascunho deste mês, o romance que Gastão Cruls escreveu inspirado em A ilha do Dr. Moreau, de H. G. Wells. Este é um trecho do meu texto:

O que não seria problema nas mãos de um bom escritor transforma-se, na pena de Gastão Cruls, em obstáculo intransponível: o livro foi escrito sem que ele conhecesse o Norte do país, a não ser “através de numerosa e selecionada bibliografia”, diz a nota da Editora José Olympio; seu primeiro contato com a Amazônia só ocorre em 1928, quando acompanha a expedição do Marechal Rondon à fronteira do Brasil com a Guiana Holandesa, atual Suriname.

Seu apego à bibliografia — e não à sua capacidade de fantasiar; o desejo de escrever uma obra que fosse réplica da floresta — e não exercício de verossimilhança; a aflição evidente de transpor para o livro cada mínimo elemento amazônico, atribuindo-lhe seu nome específico; tudo contribui para a criação de uma narrativa artificial, que obriga o leitor ao exercício de consultar, página a página, o “Elucidário”, formado por cerca de 250 palavras. Usar a expressão “o lago estava saru”, por exemplo, é condenar a um vazio mental o leitor que não domina os regionalismos.

— A íntegra do ensaio está disponível no website do Rascunho.

Um comentário:

  1. Professor, parabéns pelo blog e por seu louvável trabalho de estudo e divulgação da obra dos autores esquecidos da literatura brasileira. Gostaria de ler uma crítica do senhor sobre o Gastão Cruls contista. Não tive a oportunidade de ler "A Amazônia Misteriosa", mas travei contato com algumas histórias curtas do autor, que, pelo menos na primeira leitura, parecem muito boas ("Noturno nº 13", "Noites Brancas", "O Espelho" e "G.C.P.A."). Outro contista que está a merecer uma revisão crítica é Breno Accioly. Gostaria de saber sua opinião sobre ele. Um forte abraço!

    Virgílio Moreira

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