Analiso, no Rascunho deste mês, o romance que Gastão
Cruls escreveu inspirado em A ilha do Dr.
Moreau, de H. G. Wells. Este é um trecho do meu texto:
O que não seria problema nas mãos de um
bom escritor transforma-se, na pena de Gastão Cruls, em obstáculo
intransponível: o livro foi escrito sem que ele conhecesse o Norte do país, a
não ser “através de numerosa e selecionada bibliografia”, diz a nota da Editora
José Olympio; seu primeiro contato com a Amazônia só ocorre em 1928, quando
acompanha a expedição do Marechal Rondon à fronteira do Brasil com a Guiana Holandesa,
atual Suriname.
Seu apego à bibliografia — e não à sua
capacidade de fantasiar; o desejo de escrever uma obra que fosse réplica da
floresta — e não exercício de verossimilhança; a aflição evidente de transpor
para o livro cada mínimo elemento amazônico, atribuindo-lhe seu nome
específico; tudo contribui para a criação de uma narrativa artificial, que
obriga o leitor ao exercício de consultar, página a página, o “Elucidário”,
formado por cerca de 250 palavras. Usar a expressão “o lago estava saru”, por
exemplo, é condenar a um vazio mental o leitor que não domina os regionalismos.
— A íntegra do ensaio está disponível no website
do Rascunho.
Professor, parabéns pelo blog e por seu louvável trabalho de estudo e divulgação da obra dos autores esquecidos da literatura brasileira. Gostaria de ler uma crítica do senhor sobre o Gastão Cruls contista. Não tive a oportunidade de ler "A Amazônia Misteriosa", mas travei contato com algumas histórias curtas do autor, que, pelo menos na primeira leitura, parecem muito boas ("Noturno nº 13", "Noites Brancas", "O Espelho" e "G.C.P.A."). Outro contista que está a merecer uma revisão crítica é Breno Accioly. Gostaria de saber sua opinião sobre ele. Um forte abraço!
ResponderExcluirVirgílio Moreira