Este mês, no
jornal Rascunho, escrevo sobre Alberto Rangel e seu conjunto de narrativas, Lume e Cinza, de 1925, livro com o qual ele pretendia repetir o
relativo sucesso de Inferno verde,
publicado em 1908 com elogioso prefácio de Euclides da Cunha.
O escritor,
contudo, se espoja na própria linguagem, deleitando-se como incontrolável
Narciso, a ponto de comprometer a verossimilhança das narrativas, nas quais
tudo transpira esforço pompeante e ornamentação vazia. Este é um trecho do meu ensaio:
Mas não joguei o volume pela janela antes de chegar à
última página, pois tudo pode ficar pior quando se trata de retoricismo. É
exatamente o que ocorre na parte final, quando ao discurso bombástico se
acrescenta, num estilo exclamatório e anafórico, tremenda patriotada: a jangada
é “diligente e volteira”, “humilde e libertadora”, “afoita e pescadora”. O
monjolo é “o emblema da vida e da paciência no coração da roça”, mas depois se
torna o “emblema da vida e da abundância no coração da roça” e o “emblema da
vida e da pachorra no coração da roça”. A mandioca é o “pão do trópico”, a “mãe
do trópico”, a “ração do trópico”, a “alma e segurança do trópico”, a
“sustância e benefício do trópico”, a “salvação do trópico” e, finalmente,
“riqueza dos pobres do trópico”.
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