março 25, 2013
Prática de Leitura e Formação do Estilo – 3ª aula
Hoje, às 20h30, teremos a terceira aula do curso Prática de Leitura e Formação do Estilo. Todos os que se inscreveram durante esta
semana ou ainda desejam se inscrever, não se preocupem, pois as duas aulas
anteriores estão gravadas, disponíveis no site do Cedet para os novos alunos. Aliás,
todo o curso está sendo gravado. Maiores informações, no próprio Cedet (liguem
para 19-3249-80 ou enviem e-mail para livros@cedet.com.br).
março 21, 2013
O escritor deve se proteger da política
“Rapidamente eu vi – ou melhor, intuí (pois não vejo
nada rapidamente) – que escritores raras vezes são intelectuais. ‘Uma pitada de
ideologia e de ideias da moda é extremamente apropos’, disse Tchékhov certa vez – com ar de troça, eu desconfio.
Com um espírito mais sério, ele escreveu que os escritores ‘deviam tomar parte
na política só o suficiente para se proteger da política’. ‘Ausência de
palavrório de natureza política, social e econômica’, este era um de seus
lemas, e recomendava também objetividade, brevidade, audácia, recusa de
estereótipos e compaixão. (Ah, para uma época em que estas palavras ainda não
haviam caído em descrédito.)” – Saul Bellow, com melancolia e pessimismo, in “Escritores, intelectuais, políticos:
sobretudo reminiscências”, 1993.
março 20, 2013
O dia em que Napoleão Mendes de Almeida previu as redações do Enem e a degradação da língua portuguesa patrocinada pelo governo
Afirma Horácio
em sua Arte poética: “Muitas palavras
que já caíram renascerão, e as que agora estão em voga e estimação também hão
de cair se assim o quiser o uso, o qual é o juiz, o árbitro e a regra da
linguagem”.
Mas o sábio Napoleão Mendes de Almeida completa: “Não disse Horácio que tanto mais caprichoso é o uso de um idioma quanto menos escolas tem a nação que o fala. De tal forma se entranham solecismos e barbarismos no falar de universitários que de estranho nada se poderá encontrar dentre pouco na afirmação de que a língua que se fala no Brasil não tem gramática nem vocabulário que a caracterizem. Se não há muito escarnecia-se o erro, hoje o estudioso e lido é que se escarnece” (Dicionário de questões vernáculas).
Mas o sábio Napoleão Mendes de Almeida completa: “Não disse Horácio que tanto mais caprichoso é o uso de um idioma quanto menos escolas tem a nação que o fala. De tal forma se entranham solecismos e barbarismos no falar de universitários que de estranho nada se poderá encontrar dentre pouco na afirmação de que a língua que se fala no Brasil não tem gramática nem vocabulário que a caracterizem. Se não há muito escarnecia-se o erro, hoje o estudioso e lido é que se escarnece” (Dicionário de questões vernáculas).
março 14, 2013
Lançamento de “Muita retórica – Pouca literatura (de Alencar a Graça Aranha)” em Curitiba
Neste sábado, dia 16, a partir das 14h, estarei na Livraria Danúbio, em Curitiba, para o lançamento de meu livro, Muita retórica – Pouca
literatura (de Alencar a Graça Aranha), publicado pela Vide Editorial. Além dos
autógrafos, o objetivo é fazer um bate-papo sobre literatura e crítica
literária com os presentes. A Livraria Danúbio fica na Alameda Prudente de
Morais, 1.239, Batel Soho. Informações: (41) 3324-1784.
março 13, 2013
“Cansei-me da solenidade da queixa”, diz Saul Bellow
– Trechos da
entrevista de Saul Bellow realizada em 1965 e publicada na Paris Review:
O sofredor derrotado
“Tudo aquilo em
que o ser humano acreditava no século XIX [...] tornou inevitável que o herói
do romance realista não fosse um herói, mas um sofredor que acaba sucumbindo.”
Sapateiros
“[...] Ontem à
noite, na cama, eu estava lendo uma coletânea de artigos de Stendhal. Um deles
me divertiu bastante, me comoveu. Stendhal estava dizendo como eram sortudos os
escritores da época de Luís XVI por não terem ninguém que os levasse a sério. A
obscuridade lhes era valiosa. Corneille estava morto havia dias quando alguém
na corte julgou o fato importante o bastante para ser mencionado. No século
XIX, diz Stendhal, teria havido diversos panegíricos públicos, e os funerais de
Corneille seriam cobertos por todos os jornais. Há enormes vantagens em não ser
levado a sério demais. Alguns
escritores são excessivamente sérios em relação a si mesmos. Aceitam as ideias
do ‘público culto’. Existe essa coisa de pôr em maiúscula o A do artista.
Certos escritores e músicos compreendem isso. Stravinski diz que o compositor
deveria praticar seu ofício exatamente como faz um sapateiro. Mozart e Haydn
aceitavam encomendas – compunham sob encomenda. No século XIX, o artista
esperava altivamente pela Inspiração. Uma vez que você se alce ao nível de
instituição cultural, está em apuros.”
O absurdo da elegia
“[...] A
literatura moderna foi dominada por um tom de elegia, dos anos 20 aos anos 50,
a atmosfera de Eliot em A terra desolada,
e ade Joyce em Retrato do artista quando
jovem. A sensibilidade absorveu essa tristeza, essa visão do artista como
único elo contemporâneo violentado em seus (patrícios) sentimentos por todos os
aspectos da civilização moderna. Isso foi muito mais longe do que deveria ter
ido. Caiu no absurdo, do qual acho que já tivemos o bastante.”
Literatura russa
“[...] Os russos
exercem uma atração carismática imediata [...]. Suas convenções lhes permitem
expressar livremente sentimentos sobre a natureza e os seres humanos. Nós
herdamos uma atitude mais constrangedora e aprisionante em relação às emoções.
Temos que contornar as imposições puritanas e estoicas. Falta-nos a abertura
russa. Nossa trilha é mais estreita.”
Como resistir ao niilismo
“[...] Parece
que o que perguntei em meus livros foi: ‘Como é que se pode resistir aos
controles desta vasta sociedade sem
virar um niilista, evitando o absurdo de uma rebelião vazia?’. Perguntei: ‘Existiriam
outras formas, mais bondosas, de resistir e de escolher livremente?’. Acho que,
como a maioria dos americanos, dei preferência ao lado mais reconfortante, mais
meliorista da questão. Não estou dizendo que deveria ter sido mais ‘pessimista’,
porque descobri que o ‘pessimismo’, em quase todas as suas manifestações, é tão
vazio quanto o ‘otimismo’. Mas sou forçado a admitir que não aprofundei essas
questões o bastante. Não posso me culpar por não ter sido um severo moralista;
sempre posso dar a desculpa de que, afinal de contas, não sou nada amis que um
escritor de ficção. Mas não me sinto satisfeito com o que fiz até agora, a não
ser com o lado cômico.”
O caminho mais sábio e mais viril
“[...] Cansei-me
da solenidade da queixa, perdi mesmo a paciência com a queixa. Compelido a
escolher entre a queixa e a comédia, escolhi a comédia, como mais energética,
mais sábia e mais viril.” [Refere-se ao romance Herzog.]
março 11, 2013
Hoje, a primeira aula do Curso “Prática de Leitura e Formação do Estilo”
Às 20h30, no site do Cedet, darei início ao curso “Prática de Leitura e Formação do Estilo”. Para quem não puder acompanhar ao vivo, as
aulas ficarão gravadas, disponíveis a todos que se inscreverem. Quem tiver dúvidas
ou desejar mais informações, basta escrever para livros@cedet.com.br ou telefonar, no
horário comercial, para 19-3249-80. Até lá!
março 05, 2013
Novo curso: Prática de Leitura e Formação do Estilo
Planejei este curso pensando que, antes de tudo, precisamos abandonar a desconfiança e o
cinismo que a chamada “modernidade” alimenta em relação à linguagem. Ao mesmo
tempo, quem deseja criar seu próprio estilo de escrever deve reaprender a arte
da leitura, ferramenta indispensável para:
Ao final do curso, será proposto um exercício de redação – e comentarei, um a um, por escrito, todos os trabalhos.
Aula 3 – Leitura como “absorção ativa”. Trata-se apenas de imitar? Ler, aprender e transformar.
Aula 4 – O texto homérico. Sobriedade e síntese. As coisas como elas são, mas transformadas.
Aula 5 – O relato bíblico. A estrutura da vida humana. Psicologia e camadas de sentido.
Aula 6 – Plínio, o jovem: o inusitado descrito sem retórica. Desprezo pela amplificação.
Aula 7 – Tolstói e o detalhe iluminador. Pensamentos e gestos criam uma personalidade.
Aula 8 – A descrição da realidade com delírio e assombro: Hermann Broch.
Aula 9 – A antítese como hábito da inteligência: as cartas paulinas.
Aula 10 – Alegoria, lógica e analogias: a argumentação nos sermões do Padre Antônio Vieira.
Aula 11 – Montaigne: argumentação sem convencimento – o ato de pensar com o “encanto da conversa entre amigos”.
Aula 12 – Paradoxo e ironia: o riso da argumentação em Chesterton. No final da aula, proposta de exercício de redação.
– Valores, dúvidas e inscrições, basta visitar a página do curso, escrever para livros@cedet.com.br ou telefonar para 19-3249-80 (horário comercial).
1. Descobrir as
possibilidades expressivas da linguagem; e
2. Absorver e
transformar os estilos que se tornaram clássicos.
O curso, que começa no próximo dia 11 de março, via Internet, foi elaborado
de maneira que esses dois exercícios sejam feitos de forma concomitante, por
meio da leitura e da análise de autores paradigmáticos, não só de ficção.
Ao final do curso, será proposto um exercício de redação – e comentarei, um a um, por escrito, todos os trabalhos.
A seguir, um
resumo do que será tratado nas 12 aulas:
Aula 1 – Apresentação do curso. A linguagem, instrumento de
comunicação, conhecimento e criação literária. Libertar a linguagem da
ideologia.
Aula 2 – Por que ler? Há uma forma correta de ler? Exercício de
leitura.Aula 3 – Leitura como “absorção ativa”. Trata-se apenas de imitar? Ler, aprender e transformar.
Aula 4 – O texto homérico. Sobriedade e síntese. As coisas como elas são, mas transformadas.
Aula 5 – O relato bíblico. A estrutura da vida humana. Psicologia e camadas de sentido.
Aula 6 – Plínio, o jovem: o inusitado descrito sem retórica. Desprezo pela amplificação.
Aula 7 – Tolstói e o detalhe iluminador. Pensamentos e gestos criam uma personalidade.
Aula 8 – A descrição da realidade com delírio e assombro: Hermann Broch.
Aula 9 – A antítese como hábito da inteligência: as cartas paulinas.
Aula 10 – Alegoria, lógica e analogias: a argumentação nos sermões do Padre Antônio Vieira.
Aula 11 – Montaigne: argumentação sem convencimento – o ato de pensar com o “encanto da conversa entre amigos”.
Aula 12 – Paradoxo e ironia: o riso da argumentação em Chesterton. No final da aula, proposta de exercício de redação.
Os textos a
serem estudados em cada aula permanecerão disponíveis, com antecedência, na
página do Cedet Online.
– Valores, dúvidas e inscrições, basta visitar a página do curso, escrever para livros@cedet.com.br ou telefonar para 19-3249-80 (horário comercial).
março 02, 2013
“Um mundo sem conflitos de valores incompatíveis é um mundo completamente além de nosso conhecimento”
Hoje, depois de
minha palestra no Círculo de Estudos Políticos – onde falei sobre a liberdade
de expressão na Rússia pós-Revolução de 1917 –, conversando com alguns dos
participantes, lembrei-me de Isaiah Berlin e de seus ensaios, que
foram fundamentais para mim, principalmente durante o período em que, passo a
passo, percebi os erros, as falhas do pensamento esquerdista. Repito aqui, para
os jovens que me ouviram, o que escrevi num post
de 2009, neste blog:
O pensamento de Berlin, portanto, não propõe uma receita infalível para se chegar à verdade. Ao contrário, é um incansável convite ao inseguro exercício da liberdade.
Sempre que
releio “A busca do ideal” (in Estudos
sobre a humanidade), deixo, prazerosamente, que Berlin me conduza de uma
primeira visão geral sobre a história humana no século XX para o seu próprio
percurso intelectual, convencido, como ele, de que esse é um processo de
constante negação da barbárie, pois “somente os bárbaros não são curiosos sobre
o lugar de onde vêm, como chegaram aonde estão, para onde parecem estar indo,
se desejam ir para esse lugar, em caso positivo, por quê, em caso negativo, por
que não”.
Passo a passo
ele revisita todas as ilusões do pensamento, do ideal platônico ao marxismo,
todos esses castelos construídos no ar, que insistem em nos dizer que um dia a
razão triunfará definitivamente, dando início a uma era de cooperação e
harmonia universal, a “história verdadeira”.
Depois, ele nos
mostra como acordou – o lento despertar rumo ao “senso de realidade”:
Maquiavel, Vico, Herder –, até atingir sua visão pluralista (e jamais
relativista; como, aliás, ele insiste em sublinhar). Um pluralismo despojado de
qualquer utopia, firmado na realidade, segundo o qual “um mundo sem conflitos
de valores incompatíveis é um mundo completamente além de nosso conhecimento”.
Trata-se de uma
visão dura, sem dúvida. Mas absolutamente lúcida. Berlin não se permite
“descansar na cama confortável dos dogmas” ou ser “vítima de uma miopia
auto-induzida”. Não. Jamais haverá uma solução final para o homem, pois uma
sociedade sem problemas – ou um planeta sem problemas, sem divisões – é uma
sociedade “em que a vida interior do homem, a imaginação moral, espiritual e
estética, já não diz nada”.
E antes que nos
perguntemos o que o homem pode fazer, então, diante da realidade injusta,
insatisfatória, constantemente fendida, ele nos responde: “O melhor que podemos
fazer é manter um equilíbrio precário que impeça a ocorrência de situações
desesperadas, de escolhas intoleráveis”.
Esse é Berlin: o
olhar aberto ao real, sem jamais aceitar qualquer véu que edulcore a nossa
fragilidade. Nosso “equilíbrio inquieto” está “sob constante ameaça e em
constante necessidade de reparo”, ele afirma. E não há como escapar: “A
situação concreta é quase tudo” e “o risco moral às vezes não pode ser
evitado”. Só essa verdade nos livra da embriaguez ideológica. E só ela nos move
à negociação perene com os outros homens, à urgência de estarmos continuamente
reinventando o diálogo, a “intercomunicação entre as culturas”.
Isso não quer
dizer, no entanto, que devemos abdicar de certos bens incontestáveis, como a
liberdade, a justiça, a procura de felicidade, a probidade, o amor. Berlin é
claro: “Devemos buscar esses direitos e proteger as pessoas contra aqueles que
os ignoram ou recusam em admiti-los; e quando o diálogo se torna impossível,
podemos, então, nos sentir impelidos a guerrear com eles. Mas é necessário
sempre tentar convencê-los”.
Àqueles que
estão em busca de absolutos, o pensamento de Berlin parecerá decepcionante. Mas
aqueles abertos à construção do “equilíbrio difícil”, esses sabem que viver
significa nem sempre conseguir evitar escolhas penosas e soluções imperfeitas;
que a razão não é um instrumento plenamente eficaz; e que nossas escolhas não
são imbatíveis ou incontestáveis. Na verdade, a história já demonstrou que “a
busca da perfeição é a receita para o derramamento de sangue”.
O pensamento de Berlin, portanto, não propõe uma receita infalível para se chegar à verdade. Ao contrário, é um incansável convite ao inseguro exercício da liberdade.