No Rascunho deste mês, analiso Alma bárbara, coletânea de contos do
gaúcho Alcides Maia, publicada em 1922. A seguir, um trecho do ensaio:
“Água parada”, que abre o
volume, já anuncia o saudosismo do autor e seu apego aos adjetivos. A narrativa
idílica, que não chega a criar um conto, fixa-se no tema bucólico e aí
permanece, definindo certa idealizada lagoa como “profunda, singular, diferente
de todas”, com águas também “profundas”, novamente “diferentes” e, por fim,
“atraentes”. Vencidos poucos parágrafos, a água torna-se “calada, solitária,
arrastadora”, mais uma vez “atraente” e, a seguir, “indiferente”. Sob o domínio
de tal adjetivação, o discurso pernóstico, de nítida influência alencariana, é
conseqüência inevitável: “Lá embaixo, bem no fundo, estremeceria ainda, na
algidez dos seus desejos torpentes, alguma iara sonolenta, das que outrora
seduziam os guerreiros com seus olhos cerúleos e as suas verdes madeixas?”,
pergunta-se o narrador. Não faltam — elementos indispensáveis nesse tipo de
texto — os lugares-comuns, na forma de “beijos de brisas perfumadas pelas
flores da encosta”.
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