Acabo de ler o ensaio de Paul Johnson – em Os intelectuais – sobre Edmund Wilson.
Texto lúcido, apresenta o homem escondido sob o intelectual e as
contradições típicas do esquerdista que defende o Estado absoluto mas não aceita
quando o mesmo Estado decide sugar seus lucros com direitos autorais. Mas
Johnson percebe a sinceridade que impulsionava Wilson, virtude que acabou por
libertá-lo do comunismo. Aliás, uma boa dose de realidade pode ser, em alguns
casos, um antídoto poderoso: o período que passou internado num hospital
soviético, pobre e decadente, ajudou-o a acordar para a verdade escondida sob o
brilho sedutor da ideologia. A seguir, coloco o belo trecho final do ensaio:
“Wilson, na melhor das hipóteses, teve como diretriz de seu
pensamento a compreensão de que os livros não são entidades desencarnadas mas
nascem dos corações e cérebros de homens e mulheres vivos e que o segredo para
compreendê-los está na interação entre o tema e o autor. A crueldade das idéias
está na suposição de que os seres humanos podem ser modificados para se adequar
a elas. O benefício da grande arte consiste na maneira como ela surge a partir
da iluminação individual para a generalidade. Comentando a respeito de Edna St.
Vincent Millay, sobre quem ele escreveu com um brilhantismo renovado, Wilson
deu a definição perfeita de como um poeta deve atuar:
Ao dar expressão
suprema a uma experiência pessoal sentida em profundidade, ela foi capaz de se
identificar com a experiência humana mais geral e se mostrar como um porta-voz
para o espírito humano, anunciando seus impasses, suas vicissitudes, porém, como
um mestre da expressão humana, pelo esplendor da própria expressão,
colocando-se mais além dos embaraços comuns, das opressões e dos pânicos
comuns.
Foi esse humanismo de
Wilson que, permitindo-lhe compreender tais processos, o salvou da falácia
milenarista.”
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