“O coração de Belém é uma caverna; o santuário recoberto que é o cenário tradicional da Natividade. Nove em dez destas tradições são verdadeiras, e totalmente ratificadas pela verdade sobre o ambiente rural; pois é para estes estábulos subterrâneos que as pessoas têm levado seus rebanhos, e eles são, de longe, os locais de refúgio mais plausíveis para tantos grupos sem lar. É curioso considerar quantas variadas e inumeráveis versões da história de Belém têm sido transformadas em pinturas. Homem algum que compreenda a Cristandade irá se queixar que são todas elas diferentes entre si e todas diferentes da verdade, ou, ainda, dos fatos. O ponto central da história é que se passou em um espaço humano particular; uma ensolarada colunata na Itália ou uma casa de campo coberta de neve em Sussex. É ainda mais curioso que alguns artistas modernos tenham se aproveitado apenas da verdade topográfica; e que todavia não tenham compreendido muito dessa verdade sobre o escuro e sagrado local subterrâneo. Parece estranho que não tenham enfatizado o único caso em que o realismo verdadeiramente se aproxima da realidade. Há alguma coisa que supera as expressões da imaginação na ideia de fugitivos sagrados sendo descidos para baixo do solo; como se a terra os tivesse engolfado; a glória de Deus como ouro enterrado no chão. Talvez a imagem seja profunda demais para a arte, mesmo se ocupando em uma outra dimensão. Pois deve ser difícil para qualquer arte transmitir simultaneamente o segredo divino da caverna e a procissão dos soberanos misteriosos, a pisar a planície rochosa e a abalar o topo das cavernas.”
G. K. Chesterton (“Belém e as grandes cidades”, New Witness, 8 de dezembro de 1922, in O tempero da vida e outros ensaios, Editora Graphia)
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