maio 14, 2010

Censura no Irã

O governo brasileiro demonstra, mais uma vez, seu inequívoco apoio à ditadura iraniana, agora num momento especial. Não, não me refiro ao programa nuclear da teocracia que pretende destruir Israel, nega o Holocausto e financia o terrorismo em todo o mundo, mas à 23ª Feira Internacional do Livro de Teerã, que termina em 16 de maio. Matéria de hoje do El País radiografa o mercado editorial no Irã, onde, à semelhança do que ocorre na maioria dos países muçulmanos, a religião é indissociável das estruturas políticas, sociais e econômicas.

Nas palavras de um editor que, é claro, não quis se identificar, com a chegada, em 2005, de Mahmoud Ahmadinejad ao poder, centenas de escritores, poetas, historiadores e pensadores foram censurados. A reportagem não deixa dúvidas: “Apesar de os porta-vozes oficiais demonstrarem que só no ano passado se publicaram 3.000 novos títulos, fontes do setor recordam que, nos dois primeiros anos da nova administração, 70% dos livros antes autorizados foram proibidos”.

São quase 200 mil títulos expostos na feira, mas a maioria é formada por obras religiosas e técnicas. Quanto à literatura, além dos autores nacionais censurados no todo ou parcialmente, as traduções de escritores estrangeiros passam por um processo de, digamos, depuração, adaptando os livros ao gosto dos censores, às vezes cortando parágrafos inteiros. O mesmo ocorre em relação aos clássicos da literatura persa. Um professor universitário afirma nunca comprar edições modernas desses livros, mas apenas as publicadas antes da revolução.

As informações do El País só confirmam o que Eli Barnavi relata em seu As religiões assassinas:

Em dez séculos, o mundo árabe-muçulmano traduziu menos obras estrangeiras do que a Espanha de hoje em um único ano! Censura política e religiosa, falta de curiosidade, desprezo pelo que se faz em outras partes do mundo, tudo se combina para transformar uma civilização no passado brilhante e dominante em um vasto gueto. [...] Hoje, praticamente já não se pode ensinar as ciências em árabe e os diplomas das universidades do mundo muçulmano não valem nem o papel em que estão impressos. [...] Em resumo, a experiência científica muçulmana consiste em uma idade do ouro do século IX até o século XIV, à qual se segue um longo eclipse; em um modesto renascimento no século XIX; por último, nos últimos decênios do século XX, em um fosso aparentemente infranqueável entre, de um lado, o Islã, e, de outro, ciência e modernidade.

Apesar da repugnância, quando vejo o Brasil defendendo países desse tipo junto à comunidade internacional, recordo-me de uma das falas do nosso governante máximo: “A liberdade individual está subordinada à liberdade coletiva. Na medida em que você cria parâmetros aceitos pela coletividade, o individualismo desaparece. Ou seja, não há razão para a defesa da liberdade individual”. – De repente, tudo se esclarece.

3 comentários:

  1. um livro que ajuda bastante a entender a interferência da religião em todas as esferas é infiel da ayaan. ela acabou vivendo em vários países e conheceu muito a intolerância religiosa. beijos, pedrita

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  2. falei do livro do céline no meu blog, comentei sobre vc e linkei pra cá.

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  3. Taí, é isso mesmo, velho camarada. Sem tirar (bem, algumas vírgulas talvez..:-) nem por (bem, nah, deixa pra lá..:-)

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