No fundo, tenho dedicado minha vida à busca do silêncio. Recordo-me de sempre desejá-lo. Talvez por isso, na juventude, tenha lido insistentemente são João da Cruz e santa Teresa D’Ávila, esses místicos do deserto carmelita, amantes do silêncio absoluto, no centro do qual arderia a chama da transcendência. Talvez por isso, quando penso no silêncio, a primeira imagem que surge é a da capela do Carmelo em minha cidade natal, onde passei horas, às vezes tardes inteiras, sob a penumbra dos vitrais, orando – ou apenas em silêncio. A outra recordação é a casa de minha avó paterna – ali também o silêncio fluía, era possível vê-lo no olhar de minha avó, sempre à espera, ou na fumaça de seus intermináveis cigarros, enquanto os cachorros dormiam e eu lia.
Morar em São Paulo, contudo, transforma a busca do silêncio em um exercício às vezes torturante. Em certos dias, para se ter paz, é preciso ouvir os quartetos de cordas de Beethoven no último volume, a fim de – literalmente – derrotar o ruído.
Não enlouquecerei como o personagem de Antonio Di Benedetto em O silencieiro, mas parece-me evidente que o ruído se tornou uma das principais características da nossa cultura – e que a maioria das pessoas não suporta o silêncio. Mais do que um produto de consumo, como diz George Steiner, o ruído é hoje uma imposição, uma categoria inseparável do viver – uma arbitrariedade.
eu sempre gostei muito dos silêncios. no filme gritos e sussurros o silêncio é muito mais revelador. beijos, pedrita
ResponderExcluirÉ um belo filme do Bergman, sem dúvida Pedrita.
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