maio 20, 2009

Liberal, didático, sensato

Neoliberal, não. Liberal é um livro despretensioso – mas obrigatório. Seu autor, o jornalista Carlos Alberto Sardenberg, reuniu nesse volume textos didáticos que jamais apelam a simplismos e não abrem mão da defesa dos valores liberais. E o que poderia ser melhor em um país no qual as leis imobilizam o mercado e a livre concorrência, onde o governo conseguiu a proeza de criar uma nova ideologia, o “neoliberalismo de esquerda fisiológico”? A irônica definição não é minha, mas de Sardenberg.

Com linguagem direta, clara, o livro traz aulas que se opõem, saudavelmente, ao socialismo, ideologia tão em voga neste país, mostrando que tal bandeira – “acabada, destruída como realidade e utopia” – serve apenas à demagogia e ao populismo. Artimanhas nas quais, aliás, o partido hoje no poder se esmerou, treinando nos palanques e nos sindicatos por décadas.

Um dos melhores textos do livro, “Adam Smith vive aqui”, explica como a busca dos próprios interesses e da satisfação das necessidades pessoais pode gerar riqueza para o empreendedor e à comunidade. Sardenberg parte de um exemplo colhido nas favelas de São Paulo, onde certa moradora, sensível e inteligente, sem esperar por benesses governamentais, montou uma lan house na cozinha de sua casa. Esse tipo de história, no entanto, não agrada aos defensores da caridade feita com dinheiro público. Para eles, o Programa Bolsa Família não é uma escola de imobilismo, não é a forma cínica de garantir eleitorado fiel e cego, mas trata-se de um passo a mais na direção do socialismo tupiniquim. Sardenberg, no entanto, expressa lucidez sobre a questão e sintetiza: “Um modelo econômico que fornece educação de qualidade e gera empregos não precisa dar comida, pois fornece às pessoas meios mais eficientes e duradouros”.

Em “Quinze anos com a mesma política econômica”, o jornalista nos oferece boa retrospectiva do período FHC–Lula. Sardenberg não doura a pílula, escreve com imparcialidade, sem maniqueísmos, mostrando de que maneira um conjunto de fatores provocou a virada estratégica da economia brasileira – e como as mudanças de discurso do PT sempre obedeceram a interesses eleitoreiros.

Mas Sardenberg não escreve apenas sobre economia e política. Sua visão de uma sociedade realmente liberal, que ele expõe ao tratar dos acidentes de trânsito e da proibição da venda de bebidas alcoólicas nas rodovias, defende a liberdade de consumo, o direito individual, e, ao mesmo tempo, punições que “desabem sobre o indivíduo que desrespeitou a lei e prejudicou os outros”. Ou seja, exatamente o contrário do que temos no Brasil, onde viceja “um conjunto de arbitrariedades ineficientes”.

A escrita de Sardenberg traz o mesmo estilo que ele tem imprimido, há algumas semanas, ao Jornal das Dez, no Canal Globo News: nenhuma histrionice, nada de trejeitos exagerados, gesticulação exaltada ou bruscas modulações de voz – características, aliás, que sobram em alguns apresentadores daquele noticioso. Sardenberg, ao contrário, transpira equilíbrio, sensatez.

Sem usar subterfúgios, as teses de Neoliberal, não. Liberal desagradam, com certeza, aos esquerdistas. E exatamente por esse motivo estão imbuídas de um profundo sentido de realidade.

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