As melhores críticas
Leio com atraso dois textos publicados no Estadão na semana passada. Merecem destaque.
Na edição de quinta, 5 de março, Luiz Américo Camargo escreve sobre o Restaurante Moraes, o Rei do Filet, casa antiga na Praça Júlio Mesquita, onde fui a primeira vez ainda garoto, levado por meu pai. O texto de Camargo, no entanto, não serve apenas para despertar lembranças. Acima de outros prazeres, cumpre o papel da melhor crítica: recupera a história do restaurante; analisa os pratos, o ambiente, o serviço; faz comparações com a cozinha contemporânea; e não teme dizer ao leitor: é bom – vá. Quando chegamos ao final, podemos sentir os odores convidativos da carne. O texto é claro, leve, transpira isenção e, o melhor, não inventa metáforas excêntricas.
Trabalho semelhante faz Lauro Machado Coelho na edição de sábado, 7 de março. Escreve sobre a nossa querida Osesp em sua primeira noite com o maestro Yan-Pascal Tortelier. Lauro recusa-se à prática cada vez mais comum de usar o espaço da crítica para fazer fofocas, recordar questões desgastantes ou reacender mágoas. Não. Ele é um profissional, homem dedicado ao ofício de transformar sua crítica em minutos de ensinamento. As gradações do texto acompanham cada acorde. Quem não esteve no evento tem a visão clara do que foi a noite; alegra-se com a crise superada e, principalmente, com a música de altíssimo nível. É possível escutar uma gravação da Sinfonia nº 2 de Rachmáninov e saber em que trechos a Osesp teve desempenho melhor. A “precisão e sutileza” que Lauro reconhece em Tortelier, ele nos oferece em seu texto.
Dois críticos que são verdadeiros didatas. Essa maneira de escrever, cada vez mais rara na crítica brasileira, esconde uma sabedoria: ninguém é dono da verdade, mas o público merece a atenção e o cuidado dos que conhecem mais e, portanto, podem indicar caminhos, dizendo, claramente, o que é bom e o que não é.
Luiz Américo Camargo e Lauro Machado Coelho escrevem assim. E o melhor: sem discursos dúbios (a crítica ambígua esconde um traço indelével de covardia intelectual), sem a empáfia de pretender criar um novo gênero literário, recusando a proteção dos academicismos e da linguagem hermética.
Ah... esse é o restaurante que mais me faz falta em São Paulo... Aquele alho, aquele bolinho de carne...
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