"Eu achava que a sala queria me conter"
Um despretensioso encontro, no interior de Minas Gerais, com três irmãs muito estranhas é, resumidamente, o tema do conto – Azul índigo – de Neuza Paranhos. Mas o que essa menina, adotada desde o ano passado pelos nova-iorquinos, oferece aos seus leitores é muito mais. As descrições de Neuza surgem, em um primeiro momento, com surpreendente leveza, revelando depois certa melancolia, ou aquela irremediável tristeza que nos acomete quando descobrimos o interior do Brasil – sua pobreza, seu abandono – e as criaturas que, fingindo-se humanas, lutam para sobreviver ali. Os detalhes polvilham toda a narrativa, mas não pesam, não emperram a leitura, agindo, ao contrário, como molduras suaves da "casinha de porta e janela" e suas três estranhíssimas ocupantes. Neuza descreve esse universo singular sem distanciar-se de seu objeto, sem acomodar-se na posição de uma narradora onipresente, recusando-se, ao mesmo tempo, a sugerir qualquer tipo de proselitismo. Os dramas e os sonhos de três mulheres, esquecidas no fundão de um Brasil que não queremos ver, são delineados em um texto cuja leveza não encobre a dor que, por um momento, parece desejar nos conter.
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