março 30, 2014

Ernst Robert Curtius e o bizantinismo da vida contemporânea

Trechos do ensaio “Ortega y Gasset”, de 1924 (in Ensaios críticos sobre a literatura européia):

— O relativismo é, em última análise, ceticismo, e o ceticismo como atitude definitiva é um suicídio do espírito.

— O pensamento e a vida não toleram que se contraponha um ao outro; ao contrário, um implica o outro, condicionando-se mutuamente.

— A vida do homem tem uma dimensão transcendente, em que sai de si mesma e participa de algo que não é ela. A vida, dizia Simmel, consiste precisamente em ser mais que vida.

— O fenômeno da vida humana tem duas faces: a biológica e a espiritual. Disso resulta um duplo imperativo: a vida deve ser cultura, mas a cultura tem de ser vital. A vida inculta é barbárie; a cultura desvitalizada é bizantinismo. A cultura do nosso tempo perdeu vigência vital. Nosso racionalismo não confia mais na razão. O mesmo acontece com nossa moral. Uma moral geometricamente perfeita, mas que nos deixa frios, que não nos incita à ação, é subjetivamente imoral. Dispomos de uma sistemática da cultura, mas nos faltam os impulsos vitais a ela correspondentes.

Um comentário:

Ricardo Santos de Carvalho disse...

Curioso que ele denuncie uma moral geométrica, quando nem isso temos mais. Se bem que pode ser que a ausência contemporânea de moral seja consequência do que ele reclama.